Sabes… acordei com a esperança de que fosse primavera ao ver
o sol invadir os frisos entreabertos da cortina…
Afinal é Outono… O sol foi passageiro e o aroma floral que
me engana todas as manhãs vem dos teus cabelos lisos que teimam em não ficar na
tua almofada e ocupam o meu rosto, quase colado ao teu…
Deve ser a vingança que durante o sono preparas pela invasão
dos meus braços no teu território… no teu corpo.
Afinal é Outono, quase inverno… onde os dias curtos e frios
nos oferecem a preguiça de um sofá para fugir dos encontrões de guarda-chuvas
com pressa de se esgueirarem debaixo dos beirais.
Os livros têm um som mais melancólico a cada folha que
viramos compassados pelo crepitar da lareira e a luz parece morrer a cada
pedaço de madeira que vai morrendo devagar… em Outono devagar…
Vem aí o Inverno… e os dias serão mais curtos, o sofá mais
preguiçoso e o lume mais embalado… os livros sabem a castanhas e porto, a doces
de natal e frio, a cahecóis de lã e gorros coloridos… a neve, a chaminés…
Mas tu.. continuas a ser a primavera que agarro à noite e
não deixo fugir até o dia aparecer… em cinzento de chuva forte… ou com sol a
enganar na vidraça…
